BAsiLEIA – Engolidos pela própria mensagem – Jónatas Duarte
O português, em geral, estará familiarizado com o nome “Basileia”. Trata-se de uma cidade inserida num dos mais ricos países do mundo – Suíça. Não se ficando pela fama monetária, nela nasceram ou passaram alguns dos nomes mais importantes dos últimos séculos, de uma influência multi-abrangente. Foi berço de um dos maiores e criativos tenistas de sempre – Roger Federer. Gerou igualmente os seus frutos no campo da teologia, com um dos mais notáveis do século passado – Karl Barth. Por lá passaram ainda o grande opositor de Lutero – Erasmo de Roterdão, e o filósofo mais controverso dos últimos séculos – não só pela espalhafatosidade do seu bigode – Nietzsche. Mesmo que seja uma surpresa ouvir sobre esta cidade helvética, se é amante de futebol, como eu, com certeza associará ao clube de recente má memória para os benfiquistas.
Contudo, existe muito mais do que é aparente neste nome. Vai muito além do que uma cidade pode oferecer. Aliás, percorre o caminho inverso. Antes, muito antes, já este era um vocábulo de grande valor no discurso de João, o Batista (e Jesus – Mc 1:14,15; Mt 4:23). No grego corrente do 1º século, quem gritava Basileia, proclamava um reinado ou domínio real. Na boca deste distinto profeta estava a expectativa e anúncio do domínio real divino. A força e assertividade das ondas sonoras de si expelidas, funcionavam como veículo de antecipação do reino (Mt 3:2).
Bem, percebo que caminho agora no fio da navalha. Alguns leitores mais atentos estarão na expectativa de entender a continuidade ou descontinuidade da mensagem do Reino. Mas essa não será a jornada. Pelo contrário, é puxar uma cadeira e sentar-se a apreciar João, o Batista. Como que confortavelmente acomodados numa exposição, olhamos com cuidado e atenção para este magnifico retrato da voz que clamou no deserto. Interpretamos e absorvemos a obra do artista.
Ora, nela, como dissemos, esteve a antecipação da Basileia, a preparação do caminho do Senhor, o testemunho da luz. Mas só? Enquanto as aguerridas tintas expressam o grito “está próxima a Basileia”, destaca-se simultaneamente um dedo estendido apontando para o Cordeiro de Deus (Jo 1:29). O discurso manifestava direção, e a direção expunha também disposição. No último testemunho de João, o Batista, narrado no Evangelho segundo o Apóstolo João (não confundir), o já famoso profeta destaca, por fim, a inferioridade do seu papel comparado à personagem principal já em palco. Dispôs-se à humildade de um papel secundário (Jo 3:30).
Fazendo uma perigosa associação com um outro profeta, a Basileia tinha se tornado um grande peixe – uma baleia, diriam alguns. O profeta foi engolido pela própria mensagem. Escolheu diminuir. O ego foi tragado. João sabia que de nada valeria carregar a mensagem se ela não ardesse primeiro nele, e o consumisse completamente. Agora, quem vê de fora, contempla apenas o Cordeiro de Deus. Aquele que tinha vindo tirar o pecado do mundo, tinha crescido. Era isso que convinha!
Este é o desafio perene do Evangelho. Que a Basileia se torne Baleia. Que a mensagem engula o mensageiro. Não caminhamos para fazer o nosso nome grande, mas para fazer o nome dEle grande. Não nos pregamos a nós mesmos, mas pregamos a JESUS. Não diminuímos a JESUS para nos fazer crescer, mas o inverso. Isso implicará diminuir o nosso ego. Diminuir o nosso nome. Diminuir o nosso insaciável desejo de reconhecimento. Humildade, portanto. Enquanto o eu é atrofiado, a imagem de Cristo se desenvolve. Ter ambas as vertentes tonificadas é incompatível com a verdadeira e transformadora mensagem do Evangelho. Para João não havia diferenças entre ser, fazer ou dizer. Ao proclamar o Reino, vivia os valores do Reino. Ao antecipar o Rei, submetia-se ao seu reinado. Só assim faz sentido!
Eia!